Terminado este período em que cumpri o mandato de deputado, em substituição do meu camarada José Cascalho, impõe-se um balanço do meu contributo para com o Grupo Parlamentar do BE/Açores na Assembleia Regional e os seus resultados, na Ilha onde nasci e resido, bem como junto das açorianas e açorianos que, com empenho, defendi e continuarei a defender.
Procurei, sem me distanciar dos princípios que me norteiam nem da ideologia política defendida pelo Bloco de Esquerda, lutar pelo que, em cada momento, entendemos ser o melhor para cada realidade, mas sempre na perspectiva de uma estratégia global para a Região.
Empenhei-me, com o apoio incondicional do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, em lutas específicas do Faial, mas sempre com o objectivo dum desenvolvimento sustentado para os Açores, repudiando bairrismos doentios.
Batalhei pela recuperação da casa onde nasceu Manuel de Arriaga, trazendo o assunto ao mais variado tipo de discussão e iniciativas, fora e dentro da Assembleia, como sempre deve ser. A maneira como se trata o passado e a história diz muito sobre as pessoas que têm a responsabilidade de a não esquecer e de aprender com ela. E, aqui, incluo a Câmara Municipal da Horta.
Levei a defesa da ampliação do Aeroporto da Horta à Assembleia da República para que ficasse registada a opção do Governo Regional nos requerimentos ao Ministro da tutela. Assim poder-se-á continuar esta luta com base em argumentos registados.
Protestei, de viva voz, pela inércia e cumplicidade do Governo Regional no processo de encerramento da fábrica da COFACO na Ilha do Faial que enviou dezenas de pessoas para uma precariedade mascarada com falsas alternativas de trabalho. O futuro dessas pessoas e a redução sistemática do tecido industrial faialense ficam também na responsabilidade do Governo Regional que nada fez para inverter esta situação.
Pronunciei-me contra a deslocalização de valências da Rádio Naval da Horta, situação prevista há mais de 20 anos, sem que, no passado ou agora, se criassem alternativas, neste ou noutro âmbito.
Denunciei a falta de vontade em apoiar projectos de reintegração de jovens em risco, como os “Veredas” e “Trilhos Saudáveis”, atendendo ao seu assinalável êxito. É o mais básico princípio para evitar situações que, posteriormente, todas as pessoas lamentam. No entanto, não quiseram saber.
Mas as minhas preocupações também foram mais alargadas, intervindo em situações relacionadas com outras Ilhas ou de âmbito comum à Região, como nas pescas: defendendo uma actividade digna, sustentada e rentável para quem nela trabalha; nos transportes: batalhando por um sistema menos custoso e com complementaridade entre os diversos tipos, de forma a satisfazer as necessidades da Região e a mobilidade das pessoas, opondo-me, ainda, e energicamente a plataformas logísticas e baldeamentos de mercadoria; na saúde: fazendo propostas de alteração aos diplomas apresentados, para que fossem mais eficazes na defesa do direito à Saúde e ao bem-estar dos cidadãos; na educação: envolvendo jovens com um Projecto de Resolução sobre o Centenário da República como forma de os motivar para a participação enquanto cidadãos, apoiando, ainda, a luta dos professores e a Escola Pública; em defesa do ambiente: denunciando crimes ambientais e confrontando o Governo com procedimentos discricionários.
Muito mais foi feito, sem visibilidade mediática. A comunicação social dá sempre prioridade aos chamados grandes, mesmo que os seus protestos não contribuam para nada significativo. No entanto, muito mais há para fazer.
O Faial fica com o que foi uma nova e diferente forma de estar. A constatação do que pode ser um representante, eleito por faialenses, que se preocupa menos em defender o Governo ou líderes partidários e mais em defender os interesses das pessoas, em vez de mais um deputado de um qualquer partido com as inconsequentes posições de sempre.
Eu escolhi, porque foi isso que aprendi, que, em sítios fechados fala-se para as janelas. Lá fora é que estão as pessoas com quem queremos falar, debater, aprender e trabalhar no dia-a-dia.
Saio com sentimentos contraditórios. De satisfação, porque afinal é possível mudar o estado em que as coisas estão (quando há vontade). De tristeza, porque muito do mais básico falta alterar para que as nossas vidas sejam melhoradas. E de pensar que tudo isso está nas nossas mãos, as que levam o voto à urna.
A 27 de Janeiro de 2011, a estação de TV Al Jazira informava que “o Mundo Árabe estava em chamas”. O rastilho da Tunísia, a Revolução do Jasmim, expulsou um ditador apoiado pelo Ocidente. Na Tunísia, o movimento espontâneo pela democracia foi dirigido contra "um estado policial, com pouca liberdade de expressão ou de associação, e graves problemas de direitos humanos". A família do ditador que tem governado era odiada pela sua corrupção.
As repercussões estenderam-se pela zona e a principal “preocupação” do Ocidente está no Egipto, onde a população veio para a rua e, à semelhança do nosso 25 de Abril, está a conquistar o coração dos militares.
Num momento em que os aliados ocidentais perdem a sua influência, alguns observadores tentam comparar estes acontecimentos com a queda dos domínios russos, mas há diferenças muito acentuadas. A única semelhança tem a ver com o que se passou na Roménia, onde os americanos deram o seu apoio a Nicolae Ceausescu, o mais sanguinário ditador dos países do Leste Europeu, apoio que só cessou quando se tornou absolutamente insustentável, passando, então, a elogiar o seu derrube e a querer passar uma esponja sobre o seu passado.
A utilização de “testas de ferro” tem sido o padrão habitual. Foi assim com Ferdinand Marcos, Jean-Claude Duvalier, Chun Doo Hwan, Suharto e muitos outros “gangsters úteis”. Também, agora, se desenha o mesmo recurso, no caso de Hosni Mubarak. A esperança actual, juntamente com os esforços de rotina para tentar garantir que o novo regime não se afaste muito do caminho traçado, parece ser o general Omar Suleiman, leal a Mubarak, nomeado vice-presidente do Egipto. Suleiman, o antigo chefe dos serviços de informações, é desprezado pelo povo egípcio, quase tanto, quanto o próprio ditador.
A táctica é sempre a mesma: a democracia só é aceitável quando sirva os objectivos estratégicos dos interesses económicos instalados. Então há necessidade de alertar para todos os perigos extremistas, passando logo um atestado de menoridade política a qualquer país que tente fugir aos tentáculos existentes.
Tudo se justifica em nome do combate aos radicais do fundamentalismo islâmico que o Ocidente, contraditoriamente, tem apoiado militarmente. Mas a ameaça que preocupa os interesses instalados é o medo da independência dos povos árabes face ao domínio capitalista do ocidente.
A história repete-se, com contornos diferentes: No caso de haver agitação, pode ser necessário fazer mudanças tácticas, mas sempre cuidando de reassumir o controlo.
Um povo só pode decidir o seu destino se o fizer de acordo com aqueles de quem se quer libertar. Triste libertação. Por isso ouvimos repetidas vezes que já se faz tarde um novo 25 de Abril em Portugal. O Mundo Árabe já começou a fazer.
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