Parafraseando um dos habituais “comentadores de serviço” mais irreverente, PS e PSD estão condenados a não colaborar, pelo que não é de esperar qualquer entendimento para a formação dum governo que inclua as duas faces da mesma moeda. Quando seria de esperar uma explicação política para esta afirmação, altamente fundamentada e irrefutável, baseada em princípios ideológicos divergentes e projectos económicos inconciliáveis, pasme-se, porque o motivo apresentado foi bem mais simples e evidente: “se estiverem juntos, não há tachos para todos”.
Afinal, a crise política resume-se a este facto: “não há tachos para todos”! Explicação simples e directa à realidade.
Mas é estranho que as pessoas continuem a acreditar nas patranhas que nos receitam os alternantes desta política quando referem a necessidade de diminuir a influência do Estado. Referem, mas não dizem onde, porque tencionam diminuir o peso da responsabilidade é nas pensões, na saúde, na educação, na formação profissional e nos apoios sociais. Nunca os ouvem falar em limitar os ordenados chorudos dos amigos, em criminalizar o enriquecimento ilícito, em taxar os ganhos indecentes. Nisto, PS e PSD, estão sempre “unha com carne”, como na recente votação sobre o assunto na Assembleia da República. Pudera! São os tachos dos amigos que estão em causa.
É também estranho que as pessoas se preocupem em adivinhar qual vai ser menos aldrabão, se Sócrates, se Passos Coelho, interiorizando que a aldrabice é uma inevitabilidade de quem governa e para a qual não há alternativa política. Ou, ainda, se deixem seduzir pelo discurso fácil e demagogo, dirigido aos impulsos sensoriais do que as pessoas querem ouvir.
Pena é que este falhanço do “centrão” se deva à falta de tachos e não à consciencialização das pessoas pela evidência duma prática política desastrosa, tirada a papel químico.
A incompatibilidade da distribuição de tachos a dois, levou o PSD a precipitar a crise que sempre jurou, “a pés juntos”, tentar evitar. Aproveitou o discurso de arrogância umbilical de Cavaco e, na primeira oportunidade, vaticinou: “é agora que vamos ao pote”. Oportunidade que nada teve a ver com política económica, mas apenas com o facto de Sócrates estar a negociar com a sua amiga Angela sem dizer nada a ninguém. Ou seja, agiu por ciúmes.
Esqueceu-se que a política que tem para aplicar, é uma cópia corrigida e aumentada das soluções que tem ajudado o PS a implementar. Aos poucos vai-se lembrando que, ao contrário do que afirmava, tem que aumentar impostos, e começa logo pelo IVA, um imposto “cego” e injusto que atinge ricos e pobres por igual. Sócrates reage, mas aceita reduzir o IVA, apenas nas actividades ligadas ao golfe. Parece anedota, mas não é.
Passos Coelho contraria-se constantemente ao ceder às diferentes pressões que vêm de vários sectores do seu partido, e já afina pela necessidade constantemente incutida de que, para manter esta política, tem que promover um consenso alargado que inclua o próprio PS que tanto critica, mas que, afinal, quer como aliado.
Teremos então umas eleições a fingir, para “Inglês ver”, com a única intenção de justificar a promoção duma AD alargada que nos dê mais do mesmo, ao invés duma alternativa que rompa com a política do desastre e do caminho para o abismo.
Até quando vamos aturar isto?!
OU GERAÇÃO À RASCA?
Os “Deolinda”, com a sua música “Que parva que sou” trouxeram, à ribalta, um dos problemas fulcrais da nossa sociedade: a insegurança quanto ao futuro duma geração que vive “à rasca”, sem perspectiva de trabalho estável.
Avoluma-se a revolta latente numa juventude que se sente precocemente envelhecida. Envelhecida pelo desânimo, pelo adormecimento a que está sujeita e para onde, desde muito cedo, foi paulatinamente conduzida.
O conceito rebatido da inevitabilidade do ciclo vicioso e da recauchutada alternância dos mesmos de sempre serve para impedir o alargar de horizontes a qualquer alternativa que rompa com o marasmo que conduz invariavelmente ao mesmo fatalismo.
Cresce a tristeza pela constatação do vazio ideológico e da instigação soez. Instigação, pela sociedade, a um individualismo ultra egoísta, para a sobrevivência em função do mediatismo, da formatação do pensamento aos interesses economicistas vigentes, da guerra ao vizinho, do desprezo por quem esteja em piores condições.
A mentalidade incutida tende para a afirmação pessoal por conta do mal dos outros, numa luta, sem olhar a meios, para ascender ao patamar económico ou social superior, em detrimento, frio e calculista, de quem possa ficar na miséria.
Aumenta o desencanto pelas promessas não cumpridas, pela criação de falsas expectativas.
Falsas expectativas num futuro promissor, na elevação intelectual e na alavancagem das capacidades adquiridas.
Triste País onde, “… para se ser escravo é preciso estudar”, dizem os “Deolinda”. Em contrapartida, digo eu, para ser “senhor” basta ter dinheiro, ou consegui-lo, não interessa como, basta ter “padrinhos” ou pertencer ao clã. Competências!? Só interessam as que possam facilitar o “espertismo”, o tráfico de influências, a fuga ao fisco ou a falta de moral para as negociatas.
Os comentadores de serviço vieram logo refutar o grito de revolta com os seus conselhos de pessoas “credíveis e experientes (?)”: Sabem criticar, mas não fazem nada de concreto! Está nas mãos deles alterar a situação. Porque não o fazem?
Tentam, assim, fazer passar a mensagem de que a culpa é de quem se vê defraudado nos seus propósitos, mercê de promessas vãs e enganadoras. É a mesma fórmula que usam para convencer os pobres de que são eles os culpados da sua própria pobreza e da enganadora fatalidade da sua condição.
Porém, desta vez, os gritos de revolta multiplicam-se e dão claros sinais à sociedade, como a recente votação na canção dos Homens da Luta que venceu o Festival RTP da Canção. Movimentos espontâneos, como o da “Geração à Rasca” que juntou centenas de milhar de pessoas por todo o País, são um claro e rotundo “NÃO” às práticas económicas e financeiras desta política de direita que nos tem governado desde que Mário Soares anunciou que iria meter o socialismo na gaveta.
As medidas que o governo de Sócrates tem vindo a implementar com o beneplácito do PSD e a mando da Alemanha, já são tão afastadas de qualquer sombra de ideologia socialista que só ao fundo do túnel se poderão confundir com qualquer coisa que seja defender o Estado social, o investimento público, ou as pensões dos idosos.
O problema já não é de medidas, é de alguém ainda acreditar neste governo. O Presidente da República não acredita que ele possa continuar as políticas que lhe interessam, para além da maior parte do trabalho sujo já estar feito; os mercados não acreditam porque sabem que é “contra natura” governar à direita com um pretenso discurso de esquerda; o PSD não acredita porque não controla os desvarios de Sócrates e já tem medo que lhe caia o poder nas mãos; os socialistas cada vez acreditam menos, embora se agarrem ao seu líder como se fosse uma tábua de salvação, tal é a desorientação e a perplexidade reinante; e a verdadeira esquerda nunca acreditou, porque confundir esta prática governativa com qualquer ideário socialista é como tapar o sol com uma peneira.
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