(Fome, Miséria e Intolerância)
Imagino que muita gente deve questionar-se sobre a forma como o FMI consegue todo o dinheiro que quer para poder emprestar aos Países que tenham caído em desgraça.
Não me consta que tenham investimentos em qualquer sector produtivo e os seus quadros são todos da área financeira.
Não vejo à venda qualquer produto da marca FMI, excepto aquilo a que cinicamente chamam ajuda financeira, mas que, na realidade, não passa de empréstimos agiotas. Também nunca ouvi falar em qualquer fábrica, mesmo em Países de mão-de-obra totalmente precarizada, que labore na transformação de matéria-prima por conta destes “senhores”.
Assim, pelo que me é dado entender, existe um “poço sem fundo” onde o FMI se abastece para simular uma “ajudinha” e retirar chorudos proventos. Em boa verdade, esta organização agiota não investe dinheiro seu; age apenas da mesma forma que o tipo que comprou o banco com um cheque sem cobertura (no dia seguinte já podia autorizar o pagamento do cheque porque era o Presidente da Administração), ou seja, com o dinheiro que supostamente há-de vir.
Jogar com o dinheiro dos outros é fácil.
Dinheiro dos outros?! Sim, o pouco dinheiro que sobra aos mesmos que vão apertar o cinto para pagar aos especuladores o que estes lhes sonegaram através dos juros, cobrados nos cartões de crédito impingidos e nos financiamentos, enganadoramente fáceis, concedidos pelas financeiras, para comprar o supérfluo. É este o dinheiro que há-de vir.
É esta uma das formas que os especuladores têm de realizar fundos a partir do “nada”, à custa do endividamento das famílias que são “simpaticamente obrigadas” a consumir para além das suas possibilidades. E, com descaramento, vêm dizer que o problema é vivermos acima das nossas possibilidades, quando foram os próprios fomentadores do consumo desenfreado, com o objectivo do lucro fácil e a curto prazo?!
A tendência generalizada, incutida pelos “fazedores de opinião”, para discutir consequências pré definidas, sem analisar as causas do problema, tenta conduzir as pessoas à assunção da inevitabilidade da solução única. Não dão margem a que se ponderem alternativas, impedem a equação económica do problema e fogem à responsabilidade política da sua origem.
As crises económicas estão directamente ligadas às crises financeiras e são, mesmo, uma relação causa consequência (mais consequência para nós) em que os especuladores semeiam a confusão para que não se discirna qual o verdadeiro motivo da sua origem.
A economia não se dinamiza porque não há capacidade financeira para investir; mas, porque não se investe, ela degrada-se progressivamente até à estagnação. Deliberadamente, é escamoteado o destino dos lucros obtidos. Os bancos não promovem o aumento do seu capital social, como é sua obrigação, mas distribuem dividendos chorudos aos accionistas. Não apoiam convenientemente as pequenas e micro empresas, mas endividam-se nos mercados para emprestar dinheiro fácil ao consumo supérfluo.
O sistema capitalista, na ânsia de se reformular, na continuidade dos objectivos que persegue, provoca estas crises cíclicas, de forma deliberada, pois são a táctica mais frutuosa com vista à sua finalidade estratégica. Os comentadores, pagos para dizer o que convém, encarregam-se de aterrorizar as pessoas de tal forma que estas se auto convencem da culpabilidade da situação e da inevitabilidade das soluções protagonizadas. Assim, como já referi, não conseguem equacionar outra solução alternativa, nem perceber que este ciclo está propositadamente viciado e surge em períodos cada vez mais curtos.
Os especuladores não deixam as economias dos países “respirar”. Quando injectam dinheiro num é para recuperar o investimento e cobrar dividendos, mas, e sempre de igual modo, a troco de brutais exigências que restringem capacidade de autonomia económica a cada País e, consequentemente, aumentam a sua dependência financeira.
É o “três em um” dos mercados. Retiram lucros chorudos, aumentam a dependência externa dos países e perpetuam a sua forma de viver à custa do sofrimento e do progressivo empobrecimento das pessoas.
Na fórmula política adoptada por Portugal e pela Europa, é ao Estado que cabe definir a estratégia económica, incentivando o que mais interessa, regulamentar o funcionamento de determinadas actividades, promover a construção das infra-estruturas físicas e administrativas e conduzir directamente as empresas básicas (aquelas que, naturalmente, se constituem como monopólios).
A partir destes pressupostos, é ao sector empresarial, independentemente de ser público ou privado, que cabe a acção fundamental do processo de desenvolvimento e crescimento económico do País.
É a quem dirige as empresas que deve ser pedida responsabilidade pelos resultados dos incentivos que o Estado concede para que seja implementada a política económica definida pelo Povo que votou e elegeu os seus representantes, mediante os programas que os respectivos Partidos apresentaram a sufrágio.
Num País culturalmente avançado, de cidadãos de mente livre e esclarecida, seria este o normal funcionamento do poder representativo e do prestar de contas pela sua aplicação.
Mas, para que isto pudesse acontecer seria necessário que os respectivos gestores e empresários tivessem plena consciência da importância que lhes cabe, não só no processo de crescimento e desenvolvimento económico, mas também na responsabilidade pelo bem-estar e progresso social de todos os que contribuem para esse desenvolvimento.
É natural que, na sua actividade, o empresário tenha em mira a obtenção de lucro, o correspondente ao seu investimento, o justo prémio da sua capacidade de iniciativa e a remuneração do risco assumido. O que não pode é, aproveitando os incentivos e facilidades, proporcionadas pelo Estado com a finalidade de desenvolver a economia, apoderar-se de todo o lucro obtido, sem olhar ao fortalecimento e estabilidade da empresa, ao dever de contribuir com os seus impostos para quem o apoiou e criar melhores condições económicas, sociais e de trabalho a quem lhe forneceu a força que permitiu os lucros obtidos.
Será esta a atitude mental da maioria dos gestores públicos e empresários portugueses? Decididamente, NÃO. A experiência da nossa realidade empresarial aponta para uma confrangedora pobreza na maneira de proceder e pensar de muitos dos nossos empresários. Houve e há excepções, mas tanto neste, como em outros domínios, as excepções apenas chegam para confirmar a regra.
Tenho a sensação que alguns dos nossos empresários ainda pensam numa empresa com o espírito das antigas doações com que os reis brindavam os seus fiéis cortesãos. Um título nobiliárquico que dava o direito ao feliz contemplado de receber a respectiva renda sem mais nada ter que fazer.
Um empresário, digno de tal nome, sabe que numa empresa não pode existir a palavra estagnação. Uma empresa, ou cresce e se desenvolve, ou estiola e morre. É, pois, aos empresários portugueses que cabe, em primeiro lugar, a responsabilidade do desenvolvimento, ou da estagnação, da nossa economia. E de nada lhes serve atirar culpas para a legislação, para os governos e, muito menos, para os trabalhadores, porque são estes os mesmos que “lá fora” são considerados trabalhadores de primeira.
O problema está no facto dos nossos gestores públicos e empresários pensarem que o papel de senhor feudal foi substituído pelo de patrão.
O mal não está em quem obedece. O mal está em quem não sabe mandar.
Patrões dispensam-se porque foi a mentalidade que nos conduziu a este precipício. Empresários precisam-se para que a nossa economia de desenvolva e progrida.
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