Há "um colossal buraco de explicação" do Governo relativamente ao contributo do corte na despesa pública para o saneamento das contas do Estado.
Ano e meio a esta parte, o PSD anunciou que sabia tudo sobre como cortar na despesa, rubrica a rubrica (...). O buraco inteiro estava resolvido há um ano e meio pelo PSD.
Nem um milímetro se mexeu a este respeito, a não ser o subsídio de Natal. Há aqui "um colossal buraco de explicação".
Até agora, existiu apenas "um colossal aumento de impostos".
iSTO não é um esforço colossal, é uma desigualdade colossal.
Um COLOSSAL exemplo está na nomeação da nova administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), com destaque para a ida de Nogueira Leite para vice-presidente do banco público. Provindo do grupo Mello, o novo vice-presidente da CGD é conselheiro nacional do PSD e conselheiro do seu líder Passos Coelho. Em 2010, o destacado economista do PSD era membro de, nem mais nem menos, 17 administrações de empresas, bancos e institutos. A administração da CGD é um job luxuoso para destacados boys do PSD e do CDS (os do PS já lá estão).
Colossal! O adjectivo ganha propriedade, mas... para ilustrar o brutal corte no rendimento dos trabalhadores portugueses e a gigantesca redistribuição de rendimentos a favor dos mais ricos e dos amigos do governo. Para combater esta enormidade todos teremos de nos preparar para dignas mobilizações sociais.
Fernando Ulrich considerou que as regras de capital não têm nada a ver “com os problemas e as necessidades da economia portuguesa neste momento”, “são negativos para a economia portuguesa” e são “um confisco aos accionistas dos bancos”.
Ora aí está. O banqueiro preocupa-se principalmente com a remuneração aos accionistas dos bancos, ou seja com o que podem ou não roubar à economia.
Preocupar-se com os meios de financiamento que dinamizem a economia e criem emprego, não importa.
É preciso não ter mesmo vergonha nenhuma, ou está passando um atestado de ignorância aos portugueses?
Tornou-se recorrente, de governo para governo, o uso do argumento de desvios colossais nas contas para que os respectivos mandantes possam implementar as suas políticas, não como opção dum projecto assumido, mas como se dum recurso sem alternativa se tratasse, deitando-nos, assim, muita poeira para os olhos.
Guterres foi-se embora porque não conseguia controlar os desvios colossais, e foi promovido a Alto-Comissário Europeu. Durão Barroso desistiu porque teve medo dos desvios colossais e foi proposto para Presidente da Comissão Europeia. Santana Lopes, tendo sido demitido por indecente e má figura (pudera! Se continuasse na senda de cortar sobreiros e comprar submarinos iria aumentar os famigerados desvios colossais) não teve direito a “andor”. Sócrates primou pela teimosia, e lá continuou agarrado ao poder, com discursos de esquerda e políticas efectivas de direita, enquanto deu jeito às sanguessugas financeiras, para, depois de cair no completo desencanto externo e interno, resolver ir estudar filosofia para França, agora que lhe tinham tirado o tapete. Talvez consiga finalmente perceber o que se passou.
Nenhum foi capaz de ter uma solução para enfrentar e resolver o nosso problema! Incompetência? Medo? Cobardia? Ou, talvez, outro factor de influência menos digno?
Passos Coelho prometeu que nunca se queixaria das heranças, nem as invocaria para justificar as suas opções políticas (16 de Junho), mas em menos de um mês já mudou de opinião e tudo passou a ser por culpa dos desvios colossais. Achou estúpido, desnecessário e sem sentido um corte no 13º mês (1 de Abril), anunciando-o no trimestre seguinte, por culpa dos desvios colossais. Talvez aspire e esteja a preparar a ida para um qualquer Alto Cargo Europeu (se não houver algum disponível, inventa-se) já que com esta política não vai longe.
O mal está nos excessos do capitalismo! Dizem uns. O problema é a ganância de alguns especuladores! Dizem outros. É a falta de regulação! Argumentam. É a carência de verdadeiros líderes! Lamentam-se. O sistema é bom, mas funciona mal! (…?!). E este coro de lamentadores não enxerga que o problema é político?! Nunca vi uma coisa que funciona mal poder considerar-se boa.
Está em moda o subterfúgio da comparação de quem está mal com quem está pior. Portugal compara-se com a Grécia, dizendo que a nossa situação “não tem nada a ver” com a dos gregos. Até Barack Obama já diz que o problema dos Estados Unidos “não tem nada a ver” com o problema português. Porém, no final de contas, o problema é o mesmo - a especulação financeira - a dimensão é que é outra. Faz-me lembrar a alimentada guerra estúpida entre o pobre e o miserável, em que o primeiro se sente consolado pelo facto do último estar em piores condições, sem ter a noção de que é para lá que também caminha.
Qualquer economista sabe que o aumento de dívida com o intuito de fazer face a juros piora a situação financeira do devedor. Sabe mas não lhe dá ênfase. Porquê?
A moda actual é vociferar contra as agências de notação financeira. Antes, Cavaco Silva dizia que tínhamos que ser muito cautelosos, não falar mal delas porque se poderiam voltar contra nós. Mudou de opinião em tão pouco tempo? Afinal o homem já se engana? Ou será que está com muitas dúvidas?
Quem pensar que essas agências se regem por princípios ideológicos ou morais, engana-se redondamente. Essas instituições sinistras só têm um Deus, o dinheiro, e prestam vassalagem a quem o possa obter por qualquer meio e a qualquer custo, os especuladores financeiros que dominam os mercados. Não é o cumprimento escrupuloso do famigerado acordo que acalma os tais “mercados”, mas a certeza da obtenção efectiva de reembolsos e lucros a curto prazo. São “eles” que o dizem de forma muito clara.
No mínimo, faltou a inteligência de perceber esta premissa. Prevaleceu a ideia de sacar mais dinheiro onde ele já não abunda, deixando de fora os que o obtêm, acumulam e detêm de forma imoral e especuladora.
Passos Coelho preferiu romper o seu programa eleitoral, mas saiu-lhe o tiro pela culatra, os mercados não acreditaram nessa medida e mostraram-lhe isso no dia seguinte. Teve medo de incomodar a clientela que ideológica e financeiramente o suporta. Desprezou quem o elegeu, ansiando por mudança e pensando que pior do que estava era impossível.
Mas como a política de Passos Coelho e Sócrates é a mesma e mais forte, eu cá digo que pior é mais provável que possível.
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
"Rifão Quotidiano" de
Mário-Henrique Leiria
Ou o prenúncio da desgraça?
Das várias formas de Estado, umas de política governativa, outras de origem psicológica, vive-se, agora, com o novo governo, um chamado Estado de Graça. A novidade desta forma de governar suscita-me uma inevitável reflexão sobre o assunto e se o “E” tem direito a ser maiúsculo.
Fundamenta-se a sua origem no benefício da dúvida, na vontade propagada de fazer bem e melhor, na juventude dos elementos que o compõem e no pressuposto de que pior que o anterior será impossível.
Já conhecemos vários epítetos de Estado. Estado capitalista, Estado socialista, Estado providência, Estado social, o estado a que chegámos, entre outros. Agora, por paralelismo com o fiel acabado de se confessar, também, em política, podemos viver num estado de Graça que, neste caso, não se sabe bem se com Deus, se com o Diabo.
A graça deste estado a que a comunicação social guindou o actual Governo começou a desiludir com o prematuro dissabor do Primeiro-Ministro, derrotado na sua proposta de Fernando Nobre para Presidente da Assembleia da República. É certo que torneou bem a questão mantendo o seu compromisso com o dito, mas demonstrou falta de sentido de Estado e capacidade de antevisão política ao fazer esta proposta, factores imprescindíveis a um governante. Estas carências ficaram demonstradas pela falta de desprendimento pessoal e político do próprio implicado, por este não ter tido o discernimento de, atempadamente, desvincular Passos Coelho daquele compromisso e deste, por não ter assumido a sua responsabilidade de estadista, sobrepondo-a a meros compromissos pessoais, já que a nível partidário não era consensual.
Mas este “estado de graça” volta a desiludir ao tentar aplicar uma medida populista de redução de Ministros quando, na realidade o que se assiste é a um proliferar de Secretários de Estado. Ou seja, cria-se um Governo de Super-Ministros e entregam-se os Ministérios a Secretários de Estado, desconhecendo-se, ainda, os Secretários dos Secretários e as Secretárias destes e daqueles. Esperemos para ver até onde irá a reciclagem de “boys”.
Pelo meio dos corredores, temos ainda a telenovela de Bernardo Bairrão ex Administrador Delegado da “Media Capital” que se despediu de todos porque ia para Secretário de Estado e que, afinal, parece que vai ser desterrado. Motivo? É fácil de adivinhar. Tudo tem a ver com a privatização, ou não privatização da RTP e o coro dos protestadores em surdina que dominam os órgãos de comunicação social. É mais que evidente que os reis das privatizações não querem, neste momento, a privatização da RTP. Mais um concorrente que não se sabe quem vai dominar? NÃO!!! Decididamente NÃO!!! Veja-se a posição dissimulada e hipócrita de Paulo Portas sobre o assunto e facilmente se chega a esta conclusão. Aqui, ao contrário do caso Fernando Nobre, Passos Coelho recuou. Já não estava em causa o compromisso do seu convite, ou outros “valores” mais altos se levantaram? Este pode ser o princípio do fim do seu estado de graça.
Até os comentários do Marcelo começam a cair em desgraça: Primeiro foi a sua garantia e convicção absoluta na eleição de Fernando Nobre para Presidente da Assembleia da República que não se concretizou. Depois foi o seu pomposo anúncio de Bairrão para Secretário de Estado que também falhou.
A discrepância entre os objectivos, o discurso e a prática leva ao descrédito. Na realidade, este Governo tem quatro programas que irá pôr em prática consoante o interesse partidário do momento ou a pressão do interesse financeiro de quem ordena. Um programa claro e implícito, resultante do acordo firmado com a “troika” que todos conhecemos; um programa oculto, resultante das suas verdadeiras intenções que todos desconhecemos, mas que se sabe ir muito além do da “troika”; um programa explícito na sua aplicabilidade, mas semi-oculto nas suas consequências que vai sendo revelado ao sabor das circunstâncias; e um programa enganador, atraente na sua divulgação, mas sem propósito de aplicabilidade nas suas intenções, o programa da sua campanha eleitoral.
Passos Coelho substituiu o “de PEC em PEC” por “de PA (Programa de Austeridade) em PA”, como se não se tratasse do mesmo com outro nome. Lá se esfuma a promessa de não haver medidas a prestações como nos últimos anos, até porque já se vislumbra o próximo PA, com as indicações implícitas e explícitas da necessidade dum Orçamento Rectificativo (PA2/PEC6).
Com o aprofundar da crise, face à já mais que evidente recessão e consequente estagnação da economia que nos impedirá de fazer face aos nossos compromissos com o exterior, temo que este estado de graça do governo, rapidamente descambe para a profunda desgraça das pessoas.
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