Segunda-feira, 30 de Julho de 2012
O estado a que chegámos

 

Loucura é repetir a mesma coisa vezes sem conta esperando de cada vez um resultado diferente.

Albert Einstein

 

Criou-se deliberadamente, em Portugal, uma cultura consumista, imposta ideologicamente a toda a sociedade, mas que, ao contrário da propaganda enganosa, beneficiou apenas uma minoria. O padrão de desenvolvimento pautou-se pela facilidade de acesso a bens que identificavam um progresso enganoso. O acesso ao conhecimento, à cultura e à ciência que definem o verdadeiro nível de riqueza dum povo, foi substituído, incentivando-se uma mentalidade de opulência e facilitismo.

Agora, são os mesmos que introduziram esta mentalidade na sociedade portuguesa que acusam as pessoas de ter vivido acima das suas possibilidades. As promessas foram tão diversificadas e abundantes que condicionaram o modo de vida dos portugueses, conduzindo-os ao logro do endividamento pessoal, acreditando no progresso infinito sem necessidade de produção quando, na realidade, endividando-se, contribuíam para a sua futura degradação económica e social.

A tática capitalista não mudou a sua essência. O objetivo é que, ao fim de algum tempo, as pessoas, na sua maioria, estejam numa situação de pobreza acentuada, de tal forma que qualquer melhoria nas suas vidas seja vista como uma dádiva dos seus trucidários, que permaneçam dependentes do beija-mão aos mesmos que vaticinaram e proporcionaram a sua miséria.

A especulação não olha a meios para atingir os seus fins. Num total desrespeito pelos valores humanos, pela natureza e a biodiversidade, destrói tudo o que possa ser revertível a uma vivência saudável, a uma sociedade mais justa e culturalmente avançada, usufruindo do produto do seu trabalho e sendo solidária para com quem não consegue ou, por diversos motivos, não teve oportunidade de nela participar com pleno direito e correspondente benefício.

Os Partidos que exerceram o poder, patrocinaram este consumismo compulsivo que foi criando um cada vez menor número de riquezas, indecentemente opulentas, por contrapartida dum desmesurado aumento generalizado de pobreza. Criou dependência, corrupção e favorecimento. Preteriram a massa crítica que, agora, mandam emigrar, e protegeram os “lambe botas” e a mediocridade que os rodeia. Seduziram, com promessas enganadoras, quem lhes poderia ser útil. Ameaçaram e espezinharam quem teve a ousadia de ter pensamento próprio.

Como corolário de toda esta tática incutem na sociedade, através de comentadores insidiosos, a ideia da aversão aos políticos, classificando-os como corruptos – que os há – e transpondo, dissimuladamente, essa aversão à política, numa tentativa de negação do exercício democrático de opinião e da livre apresentação de alternativas. Clamam pela falta de empreendedorismo, sem nunca explicarem de que se trata. Insinuam a falta de autoridade para que possam, mais facilmente, exercer o seu almejado autoritarismo.

A promiscuidade entre sociedades elitistas e os Partidos do poder revela uma cumplicidade impensável num regime democrático. Esses Partidos – PS, PSD e CDS - que têm alternadamente repartido o poder digladiam-se na praça pública, mas combinam, noutros antros, mais ou menos obscuros, a divisão do poder das influências e a partilha do conteúdo do “pote” que vão confiscando a quem trabalha e pensa estar a contribuir para o bem comum.

O que mais me dói é assistir às principais vítimas deste jogo perverso legitimando sucessivamente o seu empobrecimento de eleição em eleição, num ciclo viciado, embalados na esperança dum resultado diferente que, na prática, beneficia sempre os mesmos, embarcando na personalização de campanhas - sem discutir a sua política - e em capacidades que, há mais de três décadas, apenas têm demonstrado ser capazes de favorecimento, mas incapazes de nos governar com equidade e justiça.

 

(Publicado no jornal INCENTIVO - 30/07/2012)



publicado por livrecomoovento às 20:32
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Terça-feira, 17 de Julho de 2012
AVIVAR A MEMÓRIA

Reflexões sobre uma crise ou a necessidade de

Em 1980 Cavaco Silva, então ministro das Finanças, sobe os gastos orçamentais, valoriza o escudo e aumenta as importações. 
O défice das transacções correntes sobe de 5% do PIB em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa aumenta de 467 milhões de contos em 1980 para 1199 milhões em 1982. 
Perante o descalabro, em 1983, o novo governo da AD vê-se obrigado a subir as taxas de juro 4 pontos, e a vender 50 toneladas de ouro para financiar as contas externas.
O desnorte é total.

Procede-se então ao desmantelamento do sector das pescas, silvicultura e da agricultura em Portugal, a troco de ajudas financeiras da UE. 
A maioria dos agricultores e pescadores passaram a receber para não produzir. Criaram-se subsídios para arrancar árvores (vinhas, oliveiras, árvores de fruto, etc.) e incentivou-se o abandono da actividade piscatória, contribuindo desta forma para o aumento da dependência alimentar de Portugal de países como a Espanha e França.

Depois veio a entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal (17 toneladas) a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva, Miguel Cadilhe e Tavares Moreira.
Por isso, é preciso ter lata para vir agora com discursos a aconselhar o aumento da produção agrícola! 

Foi aqui que tudo começou, com Cavaco Silva no governo, e não vale a pena continuar a procurar e a citar outros bodes expiatórios para o actual estado das coisas como fazem os indefectíveis do seu partido .


publicado por livrecomoovento às 20:12
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Segunda-feira, 16 de Julho de 2012
GREVE DOS MÉDICOS - Uma pedrada no charco do conformismo

A greve dos médicos resultou em vários fatores positivos na luta contra o caminho que nos quer conduzir à miséria e à servidão. Ousou travar a arrogância deste governo na sua atitude do “quero, posso e mando”, sempre em total desrespeito pelos princípios propagandísticos por que foi eleito, e mostrou como uma classe, unida e organizada, consegue ser vitoriosa e consegue fazer valer os seus direitos.

Os médicos souberam ter a seu lado os imediatamente prejudicados pela sua ação, os próprios utentes. Esta greve, para além de justa, em dignificação duma classe profissional, foi altamente pedagógica, pela forma como conseguiu transmitir uma finalidade comum: a defesa intransigente do serviço de saúde público.

Em três dias, o Ministro da Saúde aceitou grande parte das reivindicações dos médicos e aceitou negociar outras. A luta dos médicos, em três dias, quebrou a teimosia arrogante que este governo manteve durante seis meses. A tática do desgaste, a par da intimidação e da propaganda falaciosa, imagem de marca deste governo, desta vez, não surtiu efeito.

O novo proletariado que, em décadas anteriores, era considerado uma classe média interiorizou o poema de Brecht e percebeu – agora já não eram apenas os professores, os enfermeiros e os trabalhadores da administração pública – que a sua vez estava a chegar. Perceberam tarde, mas ainda a tempo de dizer basta. Assim o tivessem entendido empregados bancários, de seguros, dos CTT, da PT e outros que, muito provavelmente, não estaríamos perante a atual prepotência do grupo BANIF.

Por outro lado, despoletou esperança junto de outros profissionais de saúde, e de outros setores, como a educação e a energia que ganharam força para as suas lutas na dignificação do trabalho. Está posto em causa o conformismo de determinados dirigentes sindicais para com o poder instituído, gerindo sindicatos como se fossem mais uma empresa e não uma organização de classe.

A direita, com este Governo PSD/CDS, quer vingar-se do 25 de Abril. Conseguiu o seu almejado “uma maioria, um governo, um presidente”, juntou-lhe uma situação internacional de crise, provocada pela especulação financeira, e tudo faz para aprofundar o fosso entre alguns ricos, cada vez mais ricos e um crescente número de pobres, cada vez mais pobres.

Cabe-nos contrariar este projeto revanchista de empobrecimento de Portugal e da Europa, lutando pelo aprofundamento da democracia e contrariando o regresso a um passado humilhante, injusto e déspota. O êxito da greve dos médicos constituiu um assinalável contributo à democracia, e é uma boa resposta aos “Velhos - e alguns novos - do Restelo”, que dizem que adquirimos demasiados direitos. Perderam a vergonha e finalmente dizem aquilo que pensam.

Publicado no jornal Incentivo (16.Julho.2012)



publicado por livrecomoovento às 23:03
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Sexta-feira, 6 de Julho de 2012
BERTA CABRAL E AS LÁGRIMAS DE CROCODILO

A autora da atual situação do BANIF, nos Açores, fala como se não tivesse culpa do que se está a passar, quando tinha perfeita consciência que este seria o desfecho mais provável para os trabalhadores, para além do revés que constituíu o desaparecimento da marca BCA na nossa economia.

O processo de privatização do BCA foi dos últimos actos economicamente desvairados de Berta Cabral enquanto governante do PSD.

Todos sabiam que o BANIF se estava "marimbando" para o BCA; o que lhe interessava era a Açoriana de Seguros, pela sua influência - não só nos Açores - em importantes sectores económicos.

Já nessa altura imperou o compadrio político-partidário que levou a dita senhora a entregar de mão beijada, a um preço inferior e em piores condições contratuais, o BCA aos mafiosos do BANIF.

A memória pode ser curta..., mas não tanto.



publicado por livrecomoovento às 21:18
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Segunda-feira, 2 de Julho de 2012
O NOVO CÓDIGO DO DESEMPREGO (EX CÓDIGO DO TRABALHO)
É uma realidade inegável que Portugal regrediu, retrocedeu até à Idade Média e reinstaurou um regime feudalista, a quem mesmo os governos devem obediência, e tratam da população de forma miserável, levando-a ao desespero e à mais profunda miséria, mas chamando-lhe um outro nome, «os mercados».
(in blog “Um Povo à Rasca”)

Cavaco Silva promulgou, sem qualquer dúvida, engano ou problema de consciência, o pretenso novo Código de Trabalho, cuja aplicação prática é, paradoxalmente, tão velha que remonta, em Portugal, ao início do século XIX. Ou seja, direitos para quem produz: ZERO, poder discricionário para quem especula com os proventos do trabalho: TUDO. Cavaco Silva, o PSD e o CDS, com a abstenção cúmplice do PS, são os protagonistas dum recuo civilizacional secular: Portugal volta às relações de trabalho do feudalismo.

Alguns responsáveis patronais, mais conscientes e independentes da teia montada com a intenção de estrangular a capacidade produtiva do nosso país, mesmo estando do lado de quem lucra com o trabalho, entendem o logro em que caíram e, cada vez mais, manifestam o seu desagrado pelas medidas de austeridade seletivas que o PSD e o CDS aplicam, com a oposição complacente do PS.

Hipocritamente, os nossos governantes apelam à inovação e à competitividade (sem nunca explicarem que tipo de competitividade pretendem). Prometem apoio à dinamização das pequenas empresas, mas desviam o dinheiro para encobrir as negociatas que os amigos fizeram através do BPN e nada fazem para facilitar o financiamento às iniciativas dos pequenos empresários, aqueles que ainda mantêm, com grande esforço, o maior nível de empregabilidade do país. Incentivam as exportações (como se pudéssemos exportar ruínas de antigas unidades industriais que Cavaco Silva, enquanto 1º Ministro, ajudou a desativar; ou o mar que já não é sulcado pelos barcos de pesca que ele mandou queimar).

Está mais que provado ser um erro tremendo retirar poder de compra às pessoas, quer pelo impacto negativo nas contas do Estado e da Segurança Social, como se está a verificar, quer pela estagnação económica daí resultante. É pelo investimento na produção, o aumento de emprego e redução das importações que qualquer economia cresce. Nunca pela diminuição de salários.

Os nossos governantes sabem isso, mas como vassalos desta política empenhada em transformar cidadãos em servos da gleba, sejam eles homens, mulheres ou crianças, e considerando os mais velhos “estorvos a quem dariam uma manta e abandonariam no monte mais alto, para que ali acabassem os seus dias sem mais despesas inerentes à sua idade avançada”, prosseguem a sua missão suicida que nos conduz à recessão económica e ao empobrecimento generalizado.

Vai ser entregue na nossa Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores uma iniciativa legislativa que repõe, nos Açores, o Código Laboral de 2009, aprovado pelo PS na Assembleia da República. É um direito que o nosso Estatuto Autonómico nos dá. O Grupo Parlamentar do PS-Açores deu parecer negativo ao código agora promulgado. Estão reunidas as condições para que, nos Açores, se evite o retrocesso ao feudalismo pretendido pelo PSD e CDS.

O ónus da decisão está nas mãos de quem se diz socialista, até porque, ideologicamente e não só, socialismo é totalmente incompatível com medidas feudalistas.


publicado por livrecomoovento às 01:43
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