«Cavaco: portugueses esquceram o mar, a agricultura e a indústria»
- Público - ECONOMIA.PT (texto de Mário Candoso)
"Quando chegou a primeriro-ministro, Cavaco Silva Silva tinha 46 anos... Quando saiu tinha 56... Não me consta que seja normal, nessas idades, mudar diametralmente de opinião...
Tomou posse o novo governo, presidido pelo Dr. Vasco Cordeiro. Na minha anterior reflexão tive oportunidade de lhe endereçar o desejo duma boa governação, para bem dos Açores e de quem cá vive e trabalha. Teci, nesta coluna, determinadas considerações e manifestei-lhe algumas preocupações sobre a nossa Ilha do Faial. No entanto, sendo um acérrimo opositor a bairrismos doentios, não quero ficar olhando para o meu umbigo. Quero partilhar, também, as minhas preocupações relativamente às opções políticas que se desenham para a nossa Região. Assisti, em primeira mão, ao seu discurso de tomada de posse e, em boa verdade, gostei de grande parte das intenções que transmitiu e da firmeza expressa em defesa duma política que, fazendo uso do nosso Estatuto, prometia um corte com os desmandos do governo da República, austero e arrogante para com quem produz e cúmplice para com quem rouba o fruto do trabalho dos portugueses. Apreciei a frontalidade dos recados enviados através do ministro Relvas a quem tive o prazer de não cumprimentar, mas, antes, ignorar e votar ao desprezo. Era, então, caso para se pensar: “Temos homem”. “Agora sim, vamos dar a volta a isto”. Esperava-se, assim, na proposta de Programa de Governo, a concretização das intenções expressas no entusiasmante discurso de tomada de posse do seu novo Presidente. Mas, afinal, o tão ansiado programa não passa da continuação do rol de boas intenções, entremeado, agora, com algumas preocupantes derivas. A proposta de programa do XI Governo da Região Autónoma dos Açores refere na página 179: "Os produtos açorianos, quer sejam os tradicionais bens transacionáveis, como a carne, os laticínios ou o atum, entre outros, quer sejam os serviços, como o turismo, diferenciam-se dos demais concorrentes diretos por serem oriundos de uma região com uma pegada ecológica de elevado valor ambiental, de uma região livre de produtos geneticamente modificados." Reconhecendo, o Governo, a importância que a nossa agricultura terá no desenvolvimento e autossuficiência da nossa Região, era de esperar a divulgação de medidas concretas, como uma proposta de alteração da legislação que considere os Açores uma Região inequivocamente livre de transgénicos, clarificando um diploma que apenas tenta “tapar o sol com uma peneira”. Os nossos setores primários tradicionais estão em perigo, e as políticas da União Europeia ameaçam agravar a nossa débil economia. Também esperava, sinceramente, a revelação de medidas concretas para uma eficaz salvaguarda da nossa agricultura, para as pescas e em defesa dos nossos recursos naturais. É que, como o senhor sabe, só “de boas intenções está o inferno cheio”. Gostaria de ter lido um parágrafo sobre a forma como irá prevenir as escandalosas derrapagens em obras públicas, e apreciaria, deveras, a revelação de medidas claras que impedissem a usurpação de recursos financeiros em favor de acionistas privados de empresas com capital público. Não esqueça, ainda, senhor Presidente, que se contam pelos dedos as empresas da Região com mais de cem trabalhadores, mas que são às centenas, talvez milhares, as micro e pequenas empresas que empregam entre três a dez e que evitam o aumento atroz do desemprego. São estas que necessitam de apoio efetivo, mas, ao longo das 203 páginas do seu Programa, não se encontram propostas de medidas concretas de combate eficaz ao desemprego e à dinamização da economia. Não sei se “… porque o pai não quer”, se “… lhe dói a barriga”, ou, talvez, “… porque joga o Benfica”. O certo é que, tal como o voo do pombo, este governo, parte a alta velocidade, determinado e cheio de intenções, mas, rapidamente, começa a arrepiar o caminho.
(Publicado no jornal INCENTIVO)
Vai tomar posse o novo governo, presidido pelo Dr. Vasco Cordeiro. E toma posse num período conturbado da política e da economia nacional, mas também regional.
Já tive oportunidade de lhe endereçar, nas redes sociais, parabéns pela vitória e sinceros desejos de êxito governativo, e fá-lo-ei pessoalmente logo que tenha esse ensejo. Contudo, devido à natural escassez de tempo que impedirá uma conversa atempada e mais tranquila com o Dr. Vasco Cordeiro, quero dissertar um pouco sobre o que tenho intenção de lhe dizer.
Sempre o considerei uma pessoa competente e, tendo, embora, várias divergências quanto à forma de resolução de situações da nossa economia - faialense, em particular, e açoriana, no geral - não se negou a dar-me as explicações do seu ponto de vista, bem como a ouvir os meus argumentos. Essa honra lhe concedo, porque tem direito a ela.
Divergimos quanto à forma de ampliar a pista do aeroporto da Horta, mas nunca negou a necessidade desta nossa aspiração, tendo mesmo prometido, publicamente, o seu empenho no processo. Não nos entendemos relativamente às Termas do Varadouro, porque sempre defendi e continuo a defender que deverá ser um investimento público, à nossa dimensão, enquadrado com a paisagem e que ajude a criar dinâmica à nossa, cada vez mais débil, economia, e não mais uma famigerada parceria público-privada com projetos megalómanos, desde logo vaticinados ao insucesso e cujo erro nós teremos depois de pagar.
Discordei de outras situações, como a redução castradora e impeditiva de futuro desenvolvimento do novo cais, devido à sua deficiente cota e à má orientação do molhe. O futuro dirá a quem pertence a razão e esperemos que o vento raramente sopre do quadrante sudeste ou, quando o fizer, seja bonançoso. Para problema, já nos basta a necessidade de constante desassoreamento da zona, numa frenética luta de retirar a mesma areia que recentemente tinham despejado do lado de fora. Pelo menos uma empresa – espero que, futuramente, faialense – terá trabalho para o resto da vida.
Porém, nem tudo foram discórdias e divergência. Concordámos e continuamos a concordar na necessidade dum Plano Integrado de Transportes para os Açores. Infelizmente tarda e continua a tardar. Mas tenho fundada esperança que desta vez é que vai ser, tanto mais que a situação já se encontra de tal forma insuportável que irá de ser rapidamente resolvida. Peço-lhe, Sr. Presidente, ouça as pessoas e não só algumas pessoas e, muito menos só aquelas com interesses pessoais estranhos ao assunto.
Não esqueça a importância da 2ª fase da variante, porque ela é imprescindível à tão adiada obra do saneamento básico da nossa cidade - e tenha em atenção que o município não conseguirá, sozinho, neste momento, fazer face a este empreendimento -, bem como à conclusão do reordenamento do nosso porto e da frente mar. São projetos indissociáveis.
Finalmente, aproveite a oportunidade criada pela situação de crise em que vivemos para estar ao lado das pessoas e não dos interesses financeiros instalados que, se elas sentirem essa vontade, estarão certamente ao seu lado.
(Publicado no jornal INCENTIVO)
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