O alvoroço gerado à volta da qualidade da água que abastece parte da nossa cidade traz consigo a desconfiança nos responsáveis que, eleitos por nós, deliberadamente nos omitiram a verdade ou não exerceram as funções de fiscalização que juraram cumprir.
Soubemos, por declarações públicas, que este problema se arrasta há pelo menos dez anos. Dez anos?! Durante todo este tempo consumimos, com toda a confiança que nos transmitiram os responsáveis, o precioso líquido - considerado fonte da vida - justificando as diarreias, as gastroenterites e outras, com “andaços”, salmonelas ou temperos exagerados.
Foi necessário o impedimento do que seria uma simples visita a um reservatório de água para que toda esta polémica estalasse, e passasse a ser do conhecimento público a falta de responsabilidade e a ignomínia dos executivos camarários e deputados municipais do concelho da Horta durante todo estes anos.
Não há justificação plausível, quer para os executivos – independentemente de serem maioritários ou não – individual ou coletivamente, quer para os membros do órgão fiscalizador, que se demitiram, omitiram ou foram cúmplices nesta situação, lastimável e fortemente condenável. Também não é politicamente sério alguém cavalgar uma situação para a qual contribuiu ou da qual, por cumplicidade ou outros motivos, se demitiu.
A pergunta mais comum do mais comum munícipe será: “Que andaram a fazer aqueles que eu elegi, dando a confiança do meu voto, se nem sequer se preocupam com a minha saúde e qualidade de vida?”. Há várias respostas evidentes, desde a cobardia política que coloca interesses particulares à frente do bem comum, até à “carneirada” partidária que transfere para as prioridades da edilidade ou do debate municipal as agendas partidárias em vez da resolução dos problemas do município.
A inversão de valores reinante na nossa sociedade perverte de forma cada vez mais acentuada o genuíno funcionamento da democracia. Da mesma maneira que a economia passou a estar ao serviço do sistema financeiro, e não ao contrário como seria de supor, há peões, em representação de forças partidárias, que passaram a ser a tropa de choque dos interesses especulativos e da corrupção política instalada, em vez de serem o porta-voz exigente das ansiedades das pessoas às suas cúpulas.
Não se entende, nem se pode aceitar que, quer maioria, quer oposição, na Assembleia Municipal, se distraia em discursos estéreis, em mútuas acusações, “malhando em ferro frio”, enquanto periga a saúde pública do município.
Perante a gravidade da situação surpreendeu-me o discurso de tomada de posse do novo Presidente da Câmara que, tendo estado envolvido nesta polémica e tendo proferido afirmações públicas que, ou fugiram à questão, ou omitiram a verdade, não tenha tido uma palavra que pudesse inspirar um mínimo de confiança e alguma esperança no seu empenho em resolução deste grave problema.
A memória coletiva poderá ser curta, mas nem tanto.
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