A direita no seu melhor
“O prolongamento do ensino obrigatório até ao 12º ano é um erro. As pessoas devem ter a liberdade de aprender, é um direito fundamental de cada pessoa”
Miguel Pires da Silva (dirigente da Juventude Popular)
Estas e outas posições defendidas no último congresso do CDS-PP revelam bem qual a missão da direita. Vou-me debruçar, apenas, sobre a hedionda enormidade que representa esta declaração.
Para além de empobrecer as pessoas à força, querem torná-las ignorantes e iletradas, em suma, amorfas e domesticadas. Juntam, assim, novo argumento ao embuste da frase “há professores a mais em Portugal”.
Pouco falta para começarem a difundir ideias do género "Ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, …", cujo autor me dispenso de mencionar.
O que a direita portuguesa quer é uma ditadura – único regime em que é capaz de governar – onde nada se discute e tudo são certezas. Não se discutem as ordens da “troika”. Não se discute a natureza da dívida. Não se discute a austeridade. Destroem-se postos de trabalho, mas continua-se a panaceia demagógica à volta da necessidade de trabalhar.
Ideias e “princípios indiscutíveis” como estes estiveram na base da fundação do Estado Novo. O apelo de Passos Coelho à união nacional é bem ilustrativo das verdadeiras intenções da direita portuguesa, empobrecer as pessoas como se isso fosse uma virtude – “Devo à providência a graça de ser pobre” –e retirar-lhes a capacidade de decisão.
A escolaridade e a instrução não são uma escolha, mas sim um pilar da sociedade. É a instrução que nos torna cidadãos esclarecidos, com capacidade de decidir em plena consciência. Quanto menos instruídas são as pessoas, menor é a sua capacidade de não se deixarem manipular. O que a direita pretende com este retrocesso é impingir a ignorância à força para poder manipular e controlar as pessoas a seu belo prazer – “O povo quer-se dócil, modesto e paciente”.
Fecharam escolas, meteram os alunos em salas superlotadas em mega agrupamentos, à semelhança de aviários, enquanto injetavam milhões em escolas privadas e, agora, querem retroceder ao 9º ano de escolaridade.
Porque não ao 6º? Assim haveria maior excedente de professores, os jovens, ainda em idade domesticável, possuidores de larga ignorância e baixa escolaridade, poderiam engrossar o exército de desempregados – futura mão-de-obra escrava – e tudo estaria facilitado para a exploração desenfreada das pessoas.
São estes os “meninos” que apregoam a preocupação com a qualidade do ensino. Tanta hipocrisia!
Publicado no jornal INCENTIVO
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