ESTATUTOS E FINANÇAS REGIONAIS
VACAS AÇORIANAS QUE SORRIEM
DESVIOS E BURACOS COLOSSAIS
Lembram-se daquele princípio de tarde de verão em que o País parou, suspenso duma grave e profunda comunicação que o Presidente da República entendeu fazer ao País sobre o Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores? Pois é, falou sem nada acertado dizer, o que me fez supor que, finalmente, o homem teve dúvidas e se enganou. Mas não se arrependeu.
Pese, embora, a suposta gravidade do assunto, não me consta que algo de grave se tenha passado nos Açores, à luz do novo Estatuto, que tenha posto em causa a integridade ou a soberania nacional nem, sequer, obrigado a alterações ao deficit ou ao PIB. Muito menos provocou reparos aos atentos espiões da “troika”.
Não quero com isto dizer que por cá se faz tudo certinho, que o dinheiro é todo muito bem utilizado. Nada disso. Sei de dinheiros enterrados em obras supérfluas e em “elefantes brancos”. Sei de docas oceânicas que não servem para nada, enquanto se asfixia a funcionalidade de outros empreendimentos determinantes. Sei de ambiciosas marinas que apenas servem de poleiro a gaivotas, enquanto a nossa rebenta pelas costuras. Sei de Fajãs do Calhau e da existência de outras obras criminosas, enquanto os nossos caminhos agrícolas parecem ribeiras. Sei de Portas do Mar faraónicas e Centros Culturais em duplicado. Também sei da dualidade de critérios na aplicação de investimentos, como as obras de recuperação termais. Sei, ainda, da trapalhada que se arrasta há largos anos, fruto da má vontade em aumentar a pista do nosso aeroporto, dum famigerado campo de golfe e dum estádio de futebol virtual. Sei, sobretudo, do custo da incompetência e do atraso à mobilidade e ao desenvolvimento económico à volta dos transportes marítimos entre as Ilhas do Triângulo. Sei tudo isto e muito mais, e sei que isto tudo está mal! Porém, não posso dizer que são “esqueletos no armário”. É mesmo e principalmente, nuns casos incompetência, noutros má vontade; algum favorecimento à sua rapaziada, uma ou outra cedência aos grupos de pressão instituídos, competitividade estúpida com a “amiga” Berta e, na maioria dos casos, o constante resvalar para as políticas de direita que têm arrasado o País.
Perante estes factos de, mal devido a má vontade, incompetência e cedências, mas, minimamente bem, de acordo com os relatórios legais, não posso deixar de, face às notícias que têm proliferado por esse Mundo, demonstrar a minha estranheza por o mesmo Presidente da República que provocou uma ridícula “tempestade num copo de água” à volta do nosso Estatuto Político Administrativo, não fazer, agora sim, uma comunicação ao País, revelando a gravidade do que se passa com a utilização abusiva de fundos pelo Governo Regional da Madeira e o perigo que a sua propositada ocultação representa para a nossa débil situação financeira, assolada por desvios e buracos financeiros colossais.
Era o mínimo que se impunha num cenário económico e financeiro, agravado por medidas injustas de austeridade cega. Mas não; curiosamente, ou não, de visita aos Açores, o Presidente da República prefere comentar o facto das vacas açorianas sorrirem quando chove. Ou será que João Jardim sabe alguma coisa que “trinca o rabo” a alguém? Para quem possa pretender possuir uma fértil imaginação criadora, pode pressupor um envergonhado pedido de desculpas aos açorianos. Mas, eu, que não acredito neste senhor, entendo esta atitude como mais uma grave afronta à memória do nosso povo, bem como desprezo pela nossa inteligência e dignidade.
Atrevo-me, mesmo, a dizer mais: Cavaco Silva vai aproveitar, ao máximo, as consequências económicas e financeiras da promiscuidade e corrupção existentes na Madeira para lançar ataques à autonomia dos Açores, dando largas ao rancor recalcado pela obrigação de promulgar o nosso Estatuto Político Administrativo.
Publicado no Jornal "O INCENTIVO"
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