Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013
O FAIAL E OS TRANSPORTES MARÍTIMOS

Se os céus do Açores são as nossas autoestradas, o mar que nos rodeia deverá exercer a mesma função que, num território continental, têm as ferrovias.

A nossa realidade arquipelágica deve ser encarada em duas principais vertentes, as dificuldades inerentes, que têm de ser aceites como tal, e as oportunidades que emergem em resultado das formas que encontramos para tornear essas mesmas dificuldades.

A descontinuidade geográfica, o desequilíbrio no desenvolvimento económico de cada ilha e a concentração localizada de poderes constituem sérios entraves a uma solução de transportes integrada que satisfaça as necessidades básicas de quem vive nos Açores, principalmente em ilhas geograficamente mais isoladas ou economicamente preteridas.

O combate a estas assimetrias pode e deve constituir, para além duma solução para os transportes, um despertar para o desenvolvimento harmónico da Região, potenciando as particularidades de cada ilha, sejam elas de ordem económica, geográfica ou outra, juntando, assim, as sinergias que formam a riqueza da nossa diversidade.

 

A transcrição com que inicio esta minha reflexão é parte integrante dum texto da minha autoria que, há mais dum ano, já foi publicado nesta coluna. É um assunto recorrente de que reivindico a regular insistência junto das autoridades competentes.

Insisti enquanto cidadão, em vários artigos, nas páginas deste jornal. Fui incómodo junto do poder nos períodos em que exerci funções de deputado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Mas, por escrito, só obtive uma resposta concreta, datada de 3 de Junho de 2011: “O Governo dos Açores tem o compromisso público de apresentar, durante o corrente ano, o Plano Integrado de Transportes Aéreos e Marítimos da Região Autónoma dos Açores que incidirá, nomeadamente, sobre aspectos como frequências, horários e rotas”.

 Sublinho 2011. Deve-se este destaque ao facto de, em 2013, o Governo Regional dizer que, agora sim, vai haver o tal Plano Integrado de Transportes, prometido desde 2008, comprometido em 2011 e reafirmado em 2012.

Não é inocente este protelar do assunto, porque prende-se com decisões que irão mexer com interesses instalados, principalmente no que concerne ao futuro duma entidade, a ATLANTICOLINE, que, para gerir contratos sazonais com navios que operam na época de verão, necessita de 3 administradores, 2 a tempo inteiro e 1 a tempo parcial, cuja remuneração custou ao erário público 110.465€ no ano de 2012; 1 diretor de operações; 1 diretora financeira; 1 diretora comercial; 1 engenheiro naval; 1 comissária de 1ª; 2 assistentes comerciais; 1 técnica superior; 1 assistente administrativa; 2 técnicos de informática; 1 empregado de armazém, para além de Mestres, Maquinistas, Assistentes de Bordo e outros, num total que ultrapassa 50 elementos.

Tudo isto para movimentar 117.846 passageiros, em que alguns contam várias vezes consoante a quantidade de portos por onde passam. Não admira, por isso, que a receita dos bilhetes não cubra, sequer, o custo dos combustíveis.

A contrastar, temos a TRANSMAÇOR que no ano de 2012 movimentou 385.444 passageiros, dos quais 342.196 entre a Horta e a Madalena, mas tem um quadro de pessoal inferior a 50 elementos, em que a sua maioria é operacional de bordo e de assistência a passageiros, contando apenas com um administrador a tempo parcial, cuja remuneração é de 6.000€ por ano.

Prepara-se o Governo - e é já do domínio público - para fundir estas duas empresas de que detém a maioria do capital. Sem grandes análises, o mais comum cidadão entenderá que a zona onde existe maior tráfego de passageiros, durante todo o ano, e do qual não pode prescindir, são as rotas das Ilhas do Triângulo, cujo principal vértice é o Porto da Horta.

Logicamente se espera que, por decisão do Governo Regional dos Açores, a sede da empresa de transportes resultante da previsível fusão seja no Faial, como também toda a logística operacional e administração estejam sedeadas nesta mesma Ilha. Espero que não impere a mesma lógica de interesses obscuros que presidiu à deslocalização da Rádio Naval da Horta para São Miguel. Espero, também, que as forças vivas desta Ilha façam, atempadamente, ouvir a sua voz, antes que seja demasiado tarde.

 

Publicado no jornal Incentivo (2013/11/18)



publicado por livrecomoovento às 19:44
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