Sob o título de “Austeridade Fofinha” demonstrei a minha desilusão por, infelizmente, ter sido “sol de pouca dura” o discurso de tomada de posse que não passou de promessa de boas intenções, como de “boas intenções” também não passou o rol enunciado ao longo das 203 páginas do Programa de Governo que culminou na “austeridade fofinha” proposta e estranhamente, ou não, viabilizada com a abstenção violenta do PSD, e, ainda, por ter formulado desejos e acalentado “… esperança de que algo iria mudar para melhor”.
Aprovado o Plano e o Orçamento para 2014, permito-me repetir: “Este Governo Regional não está a trilhar um bom caminho porque critica violentamente a política económica e financeira da República mas, na prática, aplica-a com palavras fofinhas nos Açores”.
Padecendo de narcisismo doentio o Governo Regional fez aprovar a maioria das suas propostas, orgulhosamente só, do alto da sua maioria parlamentar cada vez mais castrada na capacidade de pensamento crítico, limitada pela razão da força em detrimento de qualquer força de razão.
O Governo Regional do Açores, alicerçado na sua maioria parlamentar domesticada, obediente e progressivamente despojada de raciocínio político-ideológico, cedeu à falácia do inevitável, ou, então, embarcou na onda do bom aluno quando se congratula com as declarações vindas de responsáveis da União Europeia que aprovam as suas políticas e dizem que os Açores estão no bom caminho.
A estratégia daquela entidade não diverge nos Açores, aplica-se a todo o País e tem os mesmos objetivos, objetivos que o PS diz contrariar mas que, na prática, implementa de forma mais ou menos subtil.
O desemprego aumenta assustadoramente e de forma descontrolada, ultrapassando a média nacional. Ao invés de políticas económicas eficazes e duradoras que promovam empregabilidade, o governo recusa-se a renegociar as parcerias público-privadas e orçamenta chorudos milhões para enterrar nestes buracos. Em que diverge esta política dos desígnios do Governo da República?
Afirmaram que as alterações à Lei das Finanças Regionais apenas contemplavam aspetos normativos. Afinal não era assim, envolvia consequências bem mais graves que levaram os próprios deputados do PSD pelos Açores na Assembleia da República a votar contra, mas o PS-Açores, deixou o seu Governo assinar o malfadado acordo com o Governo da República que nos obriga a rastejar. Em que diverge esta política da submissão degradante do Governo da República aos seus protetores?
As derrapagens em obras públicas, os negócios ASTA, a incineração à força, entre outras, são terreno propício à transferência de recursos para os bolsos de alguns privados, em detrimento de políticas sociais de reposição de rendimento, de combate ao desemprego, à pobreza e à exclusão social. Esta opção política, aliada ao desinvestimento na escola pública em favor de negócios privados e o investimento geograficamente desproporcionado que aprofunda o desenvolvimento desigual resume este Plano, este Orçamento e o Governo que o idealizou a mais do mesmo e à consequente evolução na continuidade que pouco ou nada o distingue do Governo da República PSD/CDS.
Publicado no jornal INCENTIVO
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