Tenho uma visceral repulsa pelo globalizado ‘quem não é por mim, é contra mim’. Porque o mesmo é dizer que, para não corrermos o risco de ser ‘contra’, teremos que ser a ‘favor’, sempre, obediente, cega, acrítica e ferozmente. Assim: - se os trabalhadores portugueses ao serviço das forças norte-americanas, na Base das Lajes, provam (de forma clara e cristalina) que a recente alteração ‘negociada’ - quanto aos seus aumentos salariais - resultou, objectivamente, numa imposta legalização da ilegalidade consentida, desde 1999, aí está o Governo Regional a acusá-los de não saberem fazer contas, de serem mal agradecidos, de estarem ao serviço de um sindicato fantasma, de nem sequer serem capazes de constituír uma comissão de trabalhadores… Se alguém refere que a força laboral portuguesa, na referida base, está a envelhecer e a diminuir a olhos vistos (e, aceleradamente, nos últimos dois anos e meio), aí está o Governo Regional a defender que antes isto do que nada, na vanguarda do mais do que evidente ‘de vitória em vitória, até à derrota final’… Se o ministro da Defesa, fugindo-lhe a boca para a verdade, afirma que os estudos técnicos - para o início dos treinos de aviões militares americanos, nos Açores – estão concluídos e apenas falta a decisão política, aí está o Governo Regional a desmenti-lo, porque, afinal, nada está ainda definido, as informações publicitadas não são oficiais, é preciso ter calma… Se (suprema ousadia!) alguém propõe que os açorianos sejam cabalmente informados e auscultados, sobre a transformação desta Região num palco de ensaios militares, com armas sofisticadas de última geração, aí está o Governo Regional a mandar-nos calar, porque somos alarmistas, irresponsáveis e – inevitavelmente – anti-americanos… Resumindo: se eu for ‘contra’ este estado das coisas, terei que ser a ‘favor’ da Coreia do Norte?!
(Zuraida Soares)
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