O “plano de salvamento” adoptado pela União Europeia (UE) e pelo FMI impede os debates e medidas democráticas que há que impor na Grécia e em toda a Europa: abertura dos livros de contas (dos estados, dos bancos, das empresas) e balanço do fracasso da UE neoliberal como atesta o recurso ao FMI.
É esta a União Europeia que queremos? Exigente com os mais frágeis e tolerante com os poderosos? Onde está o sentido de solidariedade que inspirou a criação desta União de Estados que até criou uma moeda única a que alguns ficaram dispensados de aderir?
Que Europa unida é esta que, à primeira dificuldade dum Estado membro, a Grécia, ameaça expulsá-lo da comunidade?
Infelizmente, é esta a União Europeia que nós temos, comandada pela política saída da assinatura do Tratado de Lisboa.
Já não nos bastava ficar ligados à “guerra aos fantasmas” que vitimou milhões de inocentes no Iraque, quando patrocinámos a Cimeira das Lajes, temos que ser, ainda e também, historicamente referenciados como o país onde, sob o signo da união, foi assinado o documento onde poderá ter começado a sua desintegração.
Os governos já não se preocupam em criar condições de desenvolvimento económico, investindo em áreas reprodutivas e geradoras de emprego estável. Apenas se preocupam com o que as agências de “rating” cozinharam na noite anterior.
"O fascismo financeiro é talvez o mais virulento. Comanda os mercados financeiros de valores e de moedas, a especulação financeira global, um conjunto hoje designado por economia de casino. Esta forma de fascismo social é a mais pluralista na medida em que os movimentos financeiros são o produto de decisões de investidores individuais ou institucionais espalhados por todo o mundo e, aliás, sem nada em comum senão o desejo de rentabilizar os seus valores. Por ser o fascismo mais pluralista é também o mais agressivo, porque o seu espaço-tempo é o mais refractário a qualquer intervenção democrática. Significativa, a este respeito, é a resposta do corretor da bolsa de valores quando lhe perguntavam o que era para ele o longo prazo: "Longo prazo para mim são os próximos dez minutos." Este espaço-tempo virtualmente instantâneo e global, combinado com a lógica de lucro especulativa que o sustenta, confere um imenso poder discricionário ao capital financeiro, praticamente incontrolável apesar de suficientemente poderoso para abalar, em segundos, a economia real ou a estabilidade política de qualquer país.
A virulência do fascismo financeiro reside em que ele, sendo de todos o mais internacional, está a servir de modelo a instituições de regulação global crescentemente importantes, apesar de pouco conhecidas do público. Entre elas, as empresas de rating, as empresas internacionalmente acreditadas para avaliar a situação financeira dos Estados e os consequentes riscos e oportunidades que eles oferecem aos investidores internacionais. As notas atribuídas - que vão de AAA a D - são determinantes para as condições em que um país ou uma empresa de um país pode aceder ao crédito internacional. Quanto mais alta a nota, melhores as condições."
(Boaventura Sousa Santos - VISÃO)
“…
Se se resignam, sob a coacção da força publica, a viverem do seu salário, taxado pelas exigências da classe capitalista que as explora, ellas só poderão quando muito, reproduzir-se e morrer, na mais extrema miséria!
Teem braços para alugar aos que d’elles carecem, aos que amontoam á sua custa grandes fortunas!
Valem, podem e vivem como escravos de nova espécie! Se pelas leis politicas são irrisoriamente proclamados soberanos: pelas leis económicas são mais míseros que os antigos escravos dos Pharaós e dos Cesares!...”
(Harmonias Sociaes, Cap. 15º. – Manoel d’Arriaga)
O traidor e o oportunista
Os líderes do PS e do PSD reuniram-se, curiosamente, na semana que vai desde o dia 25 de Abril ao dia 1º. de Maio, para dar um sinal. Quando seria de esperar algo de inovador, afinal a montanha pariu um rato. Um rato pestilento, uma ameaça para a saúde dos rendimentos dos trabalhadores e mais um castigo para quem tem a infelicidade de estar desempregado.
Quando o mais esperado seria um acordo que retirasse aos usurpadores os milhões, sonegados ao erário público, em prémios atentórios da dignidade de quem trabalha. Um acordo que proibisse e criminalizasse a atribuição de remunerações obscenas, cujo valor daria para criar pleno emprego no país; juntou-se o traidor ao oportunista e assistimos a este “sinal”: “os desempregados que paguem a crise”.
O problema da nossa economia é a estagnação económica e o desemprego. Um país não pode crescer entregando o dinheiro de todos aos especuladores acantonados nos grupos financeiros que, do nada, “fabricam” produtos que impigem ao mercado bolsista, sonegando o dinheiro real das pequenas poupanças para depois o transferirem para os paraísos fiscais, deixando os pequenos investidores com um “papel” que nada valerá no final.
A deslocalização de empresas e o desinvestimento nos sectores primário e secundário conduz, inevitavelmente, ao desemprego, à precariedade, à pobreza e à exclusão social.
Os sinais encapotados, indicativos das prioridades geográficas de investimento, são o prenúncio das desigualdades territoriais, a machadada no desenvolvimento harmónico, sustentado e complementar da economia duma Região.
Mas, não é enterrando a cabeça na areia, à espera dum “salvador”, ou que os especuladores se enterneçam, que se muda o rumo das decisões políticas. É intervindo activamente. É participando e mostrando a revolta que tentamos, em vão, apaziguar que se pode mostrar o nosso descontentamento.
“Apoz um malogro de dous mil annos d’um regímen religioso, moral, civil e politico, em que ficou sem solução o problema da Justiça para a quasi totalidade do género humano: é tempo de se acabar com esta incaracterística tibieza de vontade, com esta ultrajosa cobardia d’animo de todos no que respeita ao que há de mais substancial e delicado na consciência humana – a Justiça!”
(Harmonias Sociaes, Cap. 15º. – Manoel d’Arriaga)
Justiça
Por isso, o 1ª. de Maio que, ultimamente, tem vindo a ser de festa, pelas conquistas alcançadas, é, agora, novamente, e cada vez mais de luta pela reconquista dos direitos perdidos, pelo progresso social e pela Justiça.
Mário Moniz
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