Assisti ao recente Fórum, no Teatro Faialense, promovido pelo Município da Horta, subjugado ao tema “No combate à Pobreza e à Exclusão Social, Que Políticas de Inclusão”, e tive oportunidade de expor algumas preocupações e colocar um desafio.
As minhas preocupações tentaram transmitir a necessidade de mudança na forma como se insiste em combater o problema, minorando as consequências, mas nunca atacando a sua raiz.
O meu desafio foi e é: quando se começarão a incutir, nas famílias e nas escolas, os aspectos culturais, políticos e relacionais que promovam medidas eficazes de combate a estes males, na sua origem?
Ou seja, quando se irão deslocar sinergias para criar a vacina e combater a origem do mal, em vez de ficarmos, eternamente, a tentar remediá-lo com curativos?
O Dr. Alfredo Bruto da Costa, na sua última intervenção confirmou algumas das minhas preocupações, porque, no entender desta autoridade na matéria, todas as iniciativas governamentais, incluindo os nove desafios apresentados pelo Dr. Artur Martins, o trabalho voluntário e cívico desenvolvido por organizações não governamentais, …, tudo, tudo junto, em termos práticos, não irá contribuir mais que um décimo percentual do objectivo “erradicar a pobreza e combater a exclusão social”.
E explicou porquê. Explicou, embora com palavras diferentes destas, como a actual situação serve os senhores que dominam o sistema financeiro e, consequentemente, a economia, não só à escala nacional, mas também à Europeia e Mundial. Explicou que podemos idealizar, criar e levar a cabo inúmeras acções que visem minorar as consequências económicas e sociais da classe dominante, mas que tudo isso será um paliativo duma doença que só tem cura se for atacada na origem.
É esta a verdade. O Dr. Alfredo Bruto da Costa “pôs o dedo na ferida”.
Em boa verdade, todos nós, de forma científica ou empírica, sabemos qual é e onde está o mal. Porém, uns não querem, porque também são, indirectamente, beneficiários; outros não têm coragem de o atacar, com receio dum futuro incerto e na esperança que “tenham dó de nós”.
Futuro mais incerto, nunca se teve, e esperar por piedade é não ter vontade própria e confessar incapacidade de defender os nossos direitos, criar expectativas no nosso futuro.
Quem domina, até concorda em contribuir “generosamente?” para minorar as consequências. O que não quer é ouvir falar em redistribuir os seus excessos indecentemente astronómicos, investindo na economia reprodutiva, na manutenção e na criação de novos postos de trabalho, na promoção da cultura, na educação e formação profissional, como formas mais eficazes de combater a pobreza e a exclusão social.
Foi então que respondeu à minha pergunta de “quando se muda tudo isto?” com uma resposta, literalmente, simples: “Quando a sociedade o exigir”, mas de difícil implementação.
Porquê?
MEDO!!! Medo da mudança!
Contou-me um amigo que seu pai, pouco tempo antes de falecer, lhe disse: “Espero que nunca odeies a democracia tanto como eu odiei a ditadura”. Sábias palavras.
Temia, o pai do meu amigo, o que hoje também eu temo: o aproveitamento do legítimo poder democrático para aquisição ilegítima de privilégios, o exercício ignóbil de ódios e a relevação intolerante de preconceitos recalcados.
O abuso da legitimidade democrática como um meio para atingir fins e poderes próprios, ou de grupos, deturpa a realidade dos factos, cria antagonismos, desconfianças, e gera a incredibilidade nas instituições. Assim, para os menos atentos, facilmente passa a mensagem subtil e enganadora que pretende confundir a prática ilícita do representante arrogante e corrupto com a finalidade da própria instituição.
O crescente descontentamento nas Instituições resulta de atitudes prepotentes e da falta de confiança em quem as representa de forma arbitrária, a coberto da legitimidade democrática, que não se cansam de invocar, disparatados que são outros argumentos.
Não admira, pois, que se comecem a pedir “salvadores”, sejam eles Césares, Cavacos ou Salazares. Habituam-nos, constantemente, a ser os culpados da política que eles próprios implementam. Cada vez que se enganam(?), “sobra” sempre para os mais fracos. Já só nos falta (re)habituar à agressão física, mas até para isso se preparam, uma vez que a polícia vai ter carros de combate que, não creio, sejam para evitar assaltos nas estações do metropolitano, defendendo a integridade dos cidadãos, nem para evitar a escandalosa fuga ao fisco, defendendo a economia do País.
Não podemos, porém, confundir a legitimidade democrática das Instituições, nem a justeza do regime Republicano com a sua actual vil forma de representação. Para isso, não basta mudar de actores, uma vez que o ciclo está fechado e viciado neste estilo de jogo. Não podemos continuar numa de “todos ao ataque” e quando não resulta, “todos à defesa”. Assim não vamos a lado nenhum e o resultado é sempre o mesmo: os pobres cada vez mais pobres e em maior número, os ricos cada vez mais ricos e em menor número.
Numa noite, há já algum tempo, alguém disse: "Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos". Essa pessoa foi Salgueiro Maia. Chegámos a uma nova altura, a de escolher o Estado que queremos. Temos que ganhar coragem, participar e mudar de política para que possamos gritar de forma convicta e a plenos pulmões: “VIVA A REPÚBLICA!”
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