“… É uma invasão fascista que quer queimar a terra para preparar a incursão das agro-produções multinacionais (…) que virão patentear as sementes que são nossas há que séculos, obrigando-nos depois a pagar direitos de autor, só por serem legalisticamente mais espertos…”.
Miguel Esteves Cardoso num artigo do jornal “Público”
Há cerca dum ano escrevi dois artigos sobre introdução de sementes OGM nos Açores e, sete meses atrás, um sobre diversificação agrícola. Insurgi-me contra a capitulação perante a pressão que a “Monsanto” fez através dum seu embaixador que o Governo Regional dos Açores hipocritamente repudiou, mas que genufletidamente abençoou.
A brecha pretendida pelo embaixador, e facultada pelo Governo Regional dos Açores através da sua bancada parlamentar, para a introdução de culturas geneticamente modificadas, em campos experimentais, insere-se num plano monopolista que pretende obrigar os agricultores a adquirir, obrigatoriamente, as suas sementes à multinacional “Monsanto” que aspira ao seu monopólio mundial.
O plano é tão sórdido e hediondo que já estendeu os seus tentáculos à União Europeia, obrigando-a a produzir legislação no sentido de proibir a tradicional guarda e troca de sementes entre agricultores, o que resulta no fim dos nossos produtos diferenciados e autóctones que marcam e enriquecem a qualidade genuína da diversidade agrícola natural e asseguram a nossa autonomia alimentar.
Estamos a ser colonizados, na nossa economia, na nossa alimentação e na nossa saúde. Querem tornar-nos autómatos, a alimentar-nos todos da mesma forma, a termos o mesmo estilo de vida nivelado por baixo, os mesmos gostos a ver apenas telenovelas, futebol e “reality shows”; querem restringir a nossa diversificação agrícola e a pagar por ela; querem que todos tenhamos níveis de colesterol e triglicéridos elevados para venderem os “Zarator” e as “Pravastatina” ou outras variantes, terminadas em “or” e “ina”. Querem-nos com cancro, diabetes e insuficiência renal, para venderem os equipamentos, os reagentes químicos e os tratamentos radiológicos… Tudo para nos dominarem financeiramente, açambarcarem todas as potencialidades económicas que possam permitir alguma autonomia e formatarem a nossa mente à subjugação da cultura do medo, do servilismo e do inevitável.
Já retiraram a capacidade de sobrevivência da nossa economia. Já nos retiraram os direitos conquistados com sangue e lágrimas durante décadas. Querem retirar a nossa capacidade de pensar e agir de mote próprio, a nossa vontade de viver, a nossa esperança num futuro mais justo e em que todos possam participar com liberdade e empenho.
Pelos diversos continentes, a começar pelos Estados Unidos da América, os agricultores levantam-se em protesto contra esta oligarquia fascizante que, no intuito do lucro fácil a curto prazo, não tem pejo em tornar-nos mutantes, uma civilização doente e sem esperança de futuro, através da necessidade mais básica de vida: a alimentação.
Levantemo-nos nós, também, porque está em perigo eminente a sobrevivência da nossa Região tal qual a concebemos e gostamos de ver e sentir, porque se contaminarmos os nossos solos, permitindo o monopólio das culturas a partir de sementes estranhamente manipuladas, estaremos a pactuar com a nossa própria colonização e a pôr em risco a nossa saúde.
“Quando os vossos filhos não tiverem pão, não tiverem educação, não tiverem emprego, não tiverem futuro e nem um País…, lembrem-se em que sofá estiveram sentados”.
Ana Fernandes (professora)
Que existe um programa escondido, já nos apercebemos, sem grande esforço, face às medidas atentórias dos fundamentos do regime democrático em que este governo de direita se movimenta impunemente. As práticas fascizantes, as atitudes coléricas, a propaganda obscura e intimidatória são comprovantes, mais que evidentes, dos métodos desta estirpe antidemocrática mascarada duma competência que, cada vez mais, se orienta para o desmantelamento de todas as conquistas alcançadas após 1974.
Este governo de direita revanchista é a “testa de ferro” da vingança que os donos de Portugal juraram infligir ao Povo português por este ter ousado pôr em causa o seu domínio absoluto.
Somos governados por animais - cada qual com o significado e carga semântica própria - a condizer com as suas atitudes, intenções e práticas governativas. Neste zoológico político cada qual se move em conformidade com os seus próprios objetivos, pelo estímulo próprio da sua espécie e ordem, de acordo com a jaula que ocupa, em função da ração que o alimenta, ou do estábulo que lhe está prometido.
Capitaneados por um chefe de fila que apadrinhou um seu clono e indigitou o aluno subserviente perfeito, a matilha também adotou uma velha raposa, arguta e insinuante que tanto menospreza as uvas - alegando estarem verdes - porque não estão ao seu alcance, como inverte o discurso para não perder a oportunidade de participar no banquete, sempre que suspeita da queda de algum bago.
À volta desta bestialidade, pululam as hienas em estúpidas gargalhadas sem sentido, a não ser que riam de si próprias por apenas terem relações sexuais uma vez por ano e viverem alimentando-se dos excrementos de outros animais. São os obcecados que, na sua natural estupidez, se entretêm a lançar a confusão entre os mais incautos, principalmente, nas redes sociais.
Os abutres, em sinistros voos circulares, aguardam pacientemente pelos restos putrefatos das presas que, de forma incauta, vão sucumbindo à armadilha engendrada, enquanto os tubarões, insaciáveis, perseguem tudo o que se mexe, infligindo e mantendo um clima de terror sobre quem ouse discordar ou, sequer, perguntar se não há alternativa.
De cada vez que se entreabre a porta duma jaula dourada descobre-se um BPN, compadrio generalizado, corrupção a rodos, buracos orçamentais, derrapagens em obras públicas concessionadas a privados, doutoramentos de pacotilha, incompetência deliberada, tráfico de influências, e outras que tais, num rol sem fim.
Mas, apesar de tudo isto, ainda há quem - a acreditar nas sondagens - dê o seu apoio aos partidos promotores destas enormidades e acredite nas suas patranhas. Tudo isto me faz lembrar o clássico de literatura “O Triunfo dos Porcos”. Estamos realmente entregues à bicharada.
Publicado no jornal INCENTIVO (06.Maio.2013)
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