Nestes momentos, apelar à participação dos cidadãos pode parecer um lugar-comum, mais um a dizer o mesmo. Pois seja, mas não deixarei de insistir na importância de votar, a arma mais eficaz num regime democrático. Não sendo uma obrigatoriedade, mas sim um direito, reveste-se dum profundo dever porque deixa nas nossas mãos o destino das nossas vidas.
Não deveria ser necessário o apelo à participação dos cidadãos em qualquer eleição, mas antes uma natural vontade de cada um de nós em contribuir para o bem comum, escolhendo quem nos represente da melhor forma, renovando a legitimidade democrática de quem nos tenha governado bem, ou, se o entendermos, dar essa possibilidade a outro projeto político.
Não podemos é deixar nas mãos duns poucos o destino de muitos. Não votar, é passar um cheque em branco para que sejamos governados sem escrutínio. É dar aval à corrupção e ao compadrio.
Seria fácil tecer alguns comentários acutilantes a quem não vota, ou, simplesmente vota em branco. Não o farei, não por ser politicamente incorreto, mas porque sei que esta atitude das pessoas tem sido motivada por campanhas marginais como a forma delas demonstrarem a sua indignação pela falta de consideração por quem tem expressado a sua vontade, votando.
Garanto-vos que esta atitude não tem qualquer resultado prático, a não ser o prolongar da situação. Retira legitimidade democrática a quem se indigna por ter sido enganado e legitima as práticas anti democráticas de quem não gosta de se submeter ao escrutínio da cidadania. Em último caso, conduz a ditaduras que tanto sangue já derramou por todo o mundo e em Portugal.
“Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.”
Albert Einstein
O medo manifesta-se de várias formas e tem origens diversas. Tudo o que eu possa dissertar sobre este assunto não passará de meras conjeturas quando relacionadas com o que dizem grandes pensadores e, principalmente, aqueles que viveram situações reais:
“À medida que nos libertamos do nosso próprio medo a nossa presença liberta automaticamente os outros.”
“Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista por cima do medo.”
Nelson Mandela
“No outro lado de cada medo está a liberdade”.
Marilyn Ferguson
“Não aprendeu a lição da vida quem não domina o medo de cada dia”.
Ralph Emerson
“O meu maior medo foi sempre o de ter medo – física, mental ou moralmente – e deixar-me influenciar por ele e não por sinceras convicções”.
Eleanor Roosevelt
“De todas as paixões, o medo é aquela que mais debilita o bom senso”.
Jean Retz
“Um dos defeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer que as coisas não pareçam o que são”.
Miguel Cervantes
O medo manieta as pessoas, impede-as de pensar livremente e abre caminho fértil para a cacicagem. A cacicagem política consiste em urdir uma rede de influências, cujos tentáculos se estendem e envolvem interesses pessoais e familiares. A conjuntura económica e social em que vivemos promove facilmente estas teias levando a que, por interpostas pessoas, o cacique mantenha a sua influência, arrebanhando e comprometendo o máximo de pessoas possível.
Definição de cacique:
“Indivíduo que tem influência política em determinada região e que, na ocasião de eleições arranja eleitores a favor de certo candidato”. (Dicionário Informal)
Prisioneiras do medo e dos compromissos as pessoas sucumbem às ameaças mais ou menos veladas, implícitas ou dissimuladas de quem lhes dá emprego ou o poderá facilitar a algum familiar ou amigo.
“A honra que recebemos daqueles a quem tememos em nada nos honra”.
Michel de Montaigne
Assim se mina e desvirtua a democracia, se amarfanha a intelectualidade, a capacidade de pensamento e livre expressão. Entretanto, aumenta a raiva surda mas contida a muito custo, o desalento, a sensação de impotência perante a situação.
O passo seguinte, reza a história, será o de eliminar quem se oponha, antes que as pessoas se revoltem.
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