Sarkozy e os ciganos tal como Hitler e os Judeus
Jornais, revistas e televisões destacam as notícias da hipocrisia social que representa, em França, a decisão do governo, comandado por Sarkozy, expulsar os cidadãos europeus, de etnia cigana, oriundos da Roménia.
Ao que chega um País fundador duma Europa que se quer, e se diz, inclusiva?! É esta a Europa que defendemos e com que sonhámos? Certamente que não.
Como satiriza Ricardo Araújo Pereira, até parece que uma das razões da falência das políticas económicas actuais é culpa dos ciganos. Possivelmente estariam nos conselhos de administração dos grupos financeiros que faliram. De manhã vendiam T-shirts de contrafacção e à tarde concediam empréstimos imobiliários de alto risco.
Começa-se por expulsá-los deste e daquele País, para o País de onde vieram. Depois, como são nómadas e ninguém os quer, criam-se zonas, bem demarcadas, onde se encurralam essas etnias que só arranjam problemas (por enquanto os ciganos, depois, tudo o que continue a incomodar, independentemente da etnia).
Finalmente, chega-se à brilhante conclusão que o melhor é isolá-los numa daquelas coisas que, no tempo do Hitler, se chamavam campos de concentração. No entanto é melhor chamar-lhes outro nome, como por exemplo, “Campos de Trabalho para a Recuperação Social” ou “Centros de Reinserção Cívica”, não vá alguém descobrir que a finalidade é a mesma, apenas com contornos diferentes. Não podemos esquecer que já estamos no século XXI!
Hoje são os ciganos, amanhã os imigrantes, depois os desempregados, os dependentes, os marginais (que a própria sociedade criou), os doentes crónicos, os pensionistas e os reformados. Convém alertar os pretos para que se tornem brancos (os que conseguirem), uma vez que também podem vir a ter o mesmo destino. É certo que não se irá ao pormenor de apurar a raça ariana, mas, no mínimo, quanto mais caucasiano, melhor.
O discurso revanchista da direita europeia está a atingir o seu auge. Quanto mais ideias populistas que “peguem”, melhor. O que é necessário é destruir todo o conceito de solidariedade social. Cada vez mais se tenta “passar” a ideia de que, neste Mundo, não poderá haver menos desigualdade porque isso provoca insegurança, origina “malandrice” e subsídio dependência.
“Tem que haver quem mande! Sempre foi assim: uns nasceram para mandar e outros apenas para obedecer. Porque queremos mudar isso agora?”
O objectivo da direita é cada vez menos estado social e mais estado policial. Cada vez mais se tenta fazer crer que necessitamos dum “salvador” com mão forte, tipo Hitler ou Salazar para endireitar esta Europa.
Estamos a recuar na história da Humanidade! E as forças activas da nossa sociedade, estão, cada vez, mais inactivas, mais amorfas, presas num comodismo avassalador, entorpecidas pelo sistema, convencidas que o problema é dos outros. Mas esse problema já está à nossa porta e, atrás de nós ou ao nosso lado, já não há ninguém para nos defender.
Nunca é demais relembrar o célebre poema de Bertolt Brecht:
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”
(Bertolt Brecht)
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