Os pobres…, esses já se habituaram a pagar e a sofrer
A direita é assim, capaz de invectivar quem tenha ficado desempregado ou quem, mesmo trabalhando, não aufere rendimentos suficientes para ocorrer às despesas mínimas do seu agregado familiar: “malandros, vão mas é limpar valetas, matas e ribeiras…”. Considera a direita que quem se vê relegado para esta situação de desemprego ou rendimentos abaixo do limiar da pobreza tem obrigação de contribuir com um tributo solidário, trabalhando sem receber remuneração. A direita não ficou assim. PSD e CDS são mesmo assim!
Quando os bolsos da maioria dos portugueses já começam a ser virados do avesso sem que nada caia e os ricaços por quase todo o Mundo se preocupam, não com a desgraça dos que roubaram para poder enriquecer, mas com o despoletar de focos de contestação por todo o lado que podem vir a pôr em causa o seu estatuto de intocáveis, e pedem, por favor, que lhes apliquem umas taxas sobre o seu património para acalmar a revolta surda que se agiganta, a clique abastada portuguesa, com Américo Amorim à cabeça, diz que não está para aí virada e o PSD, rastejando, apressa-se a dizer que “é preciso parar para pensar… há uma série de detalhes técnicos que nos suscitam dúvidas…”. Como é evidente, da parte do Governo, do PSD e do CDS, a montanha, certamente, irá parir um rato. Ou nem isso sequer. PSD e CDS são mesmo assim, ao capital, todas as mordomias, ao trabalho, todo o sofrimento.
É esta política de direita que permitiu a Américo Amorim pedir um empréstimo de 1.600M€ que ainda não pagou ao BPN, para comprar acções que lhe proporcionaram posição de destaque na GALP. Agora, através do BIC, compra o BPN por 40M€, e fica tudo em casa. Grande negócio! São estes negócios que PSD e CDS são especialistas em proteger, basta recordar a promiscuidade entre a SLN (activos dos especuladores a salvo para os capitalistas) e o BPN (buraco das aldrabices nacionalizado e a ser pago por quem trabalha). PSD e CDS não ficaram assim, são de direita, são mesmo assim.
Depois chegam os argumentos estafados, alertando para a fuga de capitais. E eu pergunto, que capitais? Os que estão sedeados em paraísos fiscais? Esses já fugiram sem pagar qualquer taxa. Não podemos contar com eles. Os provenientes da especulação bolsista e os dividendos accionistas? Já lá estão também, no mesmo sítio intocável, disponíveis para a próxima trapaça. Onde é que falta perceber que gente como Américo Amorim não investe dinheiro seu? Investe, sim, dinheiro da nossa dívida externa, através de subterfúgios que lhe permitam sonegar capital cuja dívida, posteriormente, é englobada em operações como a da compra do BPN, apadrinhada e negociada por Paulo Portas.
São estas e outras negociatas, umas na área financeira e outras relacionadas com transacções imobiliárias, geradoras de mais-valias criminosas não taxadas que, na realidade representam a maior parte do bolo da nossa dívida externa. A outra grande parte prende-se com a necessidade de recapitalização dos bancos que, em vez de constituírem reservas para aumento de capital, distribuíram dividendos monstruosos aos accionistas. E nós a pagar, e nós a pagar. E ainda têm o descaramento de dizer que a dívida se prende com a necessidade de ocorrer a apoios sociais e ao pagamento de ordenados da Função Pública!? Será que já nos fizeram mesmo acreditar nesta mentira?
Se assim é, temos que ter pena dos ricos caso sejam obrigados a pagar umas migalhas, desabituados que estão de contribuir seja para o que for. Os pobres? Esses já se habituaram a pagar tudo, o que devem e, até, o que não devem, por isso não passam de pobres.
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