Ou de como se aldrabam as pessoas
A nossa Ilha do Faial era conhecida pela “Terra da Coisa Rara”, onde até o Gato era vendilhão de peixe. O País tinha indícios de nos seguir o exemplo, por piores motivos, uma vez que o Presidente da ditadura fascista, carinhosamente apelidado de “Cabeça de Abóbora”, era alvo da chacota nacional e internacional pelas suas constantes gafes no desempenho da única missão em que era autorizado por Salazar, o corte de fitas.
Temos um Presidente da República que diz não ser político embora seja o titular de cargos públicos com mais tempo de atividade política. Temos um Primeiro-Ministro que tinha tudo bem estudado antes de ser empossado, mas, no dia seguinte já tinha descoberto que era tudo mentira e que a política tinha de ser outra. Temos um elenco governativo que, sempre que se abre uma gaveta, se descobrem ligações ao grupo PBN ou a negócios de submarinos.
No país onde os mistérios divinos eram escrupulosamente escrutinados pelos donos da grei, o milagre, nesta sacrossanta vigência - um Presidente, um Governo, uma maioria - passou a ser uma banalidade.
Milagrosamente, não só aumentaram as exportações como também diminuíram as importações, mas ninguém se preocupou em explicar o motivo dessa diminuição. Terá sido pela expansão do nosso tecido empresarial, pelo aumento da nossa indústria que passou a ter à disposição dos portugueses os bens que importavam, ou a razão deve-se à falta de capacidade financeira das pessoas para adquirir esses mesmos bens? Ou o milagre aconteceu?
Mercê dum novo “milagre de Fátima” a troika deu parecer favorável a um buraco orçamental comparável à Fossa das Marianas. Como é que agiotas tão exigentes deram luz verde a estes resultados financeiros desastrosos a par duma política económica recessiva e lesiva do trabalho e dignidade das pessoas? Ou o milagre aconteceu?
Graças a uma divindade, ainda desconhecida, Portugal vai cumprir os limites do défice, acabar com os cortes, diminuir a carga fiscal e tornar a economia florescente. Alguém acredita nesta patranha? Ou o milagre vai acontecer?
Num país onde as vacas riem quando chove, o que faz aumentar a sua produção de leite, e as Ilhas Selvagens são o maior centro de nidificação de cagarros do Atlântico Norte, o que fez com que Espanha queira reivindicar a sua soberania, a economia dá sinais de força quando as pessoas ficam mais pobres e a banca privada tem lucros à custa do erário público.
Neste país da coisa rara, tornou-se comum privatizar a saúde pública, a educação, a energia, enfim, tudo o que possa constituir um bem público a defender, passando a ser dívida pública os buracos financeiros criados pelos administradores incompetentes, a agiotagem das parcerias ruinosas e as dívidas da banca privada aos mercados financeiros.
Por este andar, em breve, passaremos a ser conhecidos pelo país dos milagres, ou, então, de vendedores da “banha da cobra”.
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